16 de fev. de 2009


SAUDADES DOS VERÕES DE DUAS PISTAS

A impressão que tenho é que os verões eram mais longos. Época em que a freeway só tinha duas pistas. Hoje temos 3 de cada lado e toda população de Porto Alegre querendo tomar um banho de mar no final de semana. As três pistas continuam sendo insuficientes, e os verões, agora só nos finais de semana, perderam o seu charme.

Saudosismo? Mais idade? Os verões das "duas pistas" tinham um sabor de "vagabundagem adolescente". Sabor de férias de dois, três meses. A população cresceu e a praia não. A "danceteria" da avenida Central não é mais o lugar que toda praia "adolescente vagabunda" se encontrava e cabia. Era época de Engenheiros do Havaí tocando no tabladinho, bem no início da carreira.

Aproveitando esse papo "quarentão", é nesses tais veraneios de finais de semana, que vejo aqueles amigos de outros verões. Estamos barrigudinhos e a maioria com filhos - o diminutivo é porque a minha não está tããão grande assim. O tempo passa, o tempo voa, cria barriga e faz perder cabelo, e a poupança Bamerindus nem existe mais.

Esse "tempo que passa", também faz a gente ficar mais contido e sem jeito. Deveria ser ao contrário. Num desses finais de semana na praia, vi alguns "ex-vagabundos-adolescentes-amigos" passando na frente do meu guarda-sol. A camada de ozônio contribui para que a gente fique um tanto quanto, disfarçado, na beira da praia. Boné cravado e óculos escuros. E um "corpitcho" que não é mais o mesmo. Belo disfarce. Ninguém te vê e você só fica vendo o tempo passar.

Porque não chamar aquele casal que você viu dar o primeiro beijo naqueles verões, passando, ali, aos seus pés? Será que o tempo faz a gente ficar mais recolhido? Ou será que é o medo de ver uma espécie de espelho, com a mesma barriga e o pouco cabelo?

Eram verões que não nos faziam pensar na segunda-feira. Verões que ficavam a espera do Carnaval. Aí sim era hora de começar a pensar que já tava acabando. Talvez uma "prorrogação" na Páscoa ou num próximo feriadão. Era época de concentração dos blocos e de montar o nome e o "estandarte". Aquelas voltas no salão pegando na cintura das meninas. Mais uma voltinha pra dar coragem pro beijo lá fora, sentado na "mureta" perto da piscina. E o estandarte? E a entrada do bloco? Chama todo mundo!!

Queria ver, hoje, o bloco dos barrigudinhos. Deu pra notar que tô com trauma. É claro que ainda deve ter os saradinhos de plantão lá pelos seus 39, 40. Eu, particularmente, tenho lutado contra a minha barriguinha hereditária. Corrida dia sim, dia não. Um dia sim, sempre acaba caindo nesses finais de semana na praia. Daí a gente vê aquela galera linda e sarada. E a corrida fica mais puxada e válida. Não posso relaxar, não posso relaxar! Cinco quilômetros até a estrada do mar. O ipod dá o ritmo e a lembrança de algumas casas e quadras por onde passo, faz o suor escorrer mais ainda e a trilha, que por acaso pode encaixar um B 52.

No percurso, vejo a casa do Fabiano. Daquelas com um terreno ao lado, só pra uma quadrinha de vôlei ou futebol. Olha a casa da Gabi! onde o jogo do copo "comia" nas madrugadas, e fazia a caloi cross sair tinindo na madrugada sem olhar pra trás, desconfiado com algum barulho suspeito. Olha o apartamento da Flávia! Onde quase todas as tardes eu gritava na janela pra irmos pro vôlei. E quem sempre abria a persiana era o "tio João", pai dela, com cara de sono. Olha a casa do Morango, da Leila, do Salsicha, do Andrezinho, do Gordo, da Lari, da Dida, da.....

Já são quase 11 horas da noite de domingo em Atlântida. Eu, Letícia e Laura, uma jovem família "barrigudinha", se prepara para pegar a freeway lotada. Laura, que já tem sete anos, dorme pra acordar na segunda-feira em Porto Alegre, de férias. Que Deus nos acompanhe em mais uma estrada lotada cheia de jovens ex-amigos-pançudos. Mudou muita coisa e nada mudou.


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