10 de fev. de 2009





FALTA MUITO PAI?

A cada comentário sobre o Pacific, Laura ,minha filha, se manifesta perguntando se falta muito para arrumarmos as malas e entrarmos triunfantes por aquele lindo pórtico. "Pai, porque o pórtico tá pronto e a nossa casa ainda nem começou?" Parece aquela pergunta de viagens longas que toda criança faz: falta muito pai?

Laura tem sete anos. Em 2009 , vai para a segunda série. Mas só vai correr pelas quadras, andar de bicicleta pelas ruas e murchar na piscina quando estiver na terceira série . Só vai ser a "pretinha" da casa 139 quando já estiver resolvendo muito bem as equações matemáticas e as interpretações de texto.

A vida vem mesmo em etapas. É marcada por fases, amizades, conquistas, detalhes. Lembro bem de quando ia com meus pais, por alguns seguidos verões, para Rainha do Mar. Frequentávamos a Colônia de Férias do Banrisul, onde passamos verdadeiros "veraneios" , que naquela época duravam de dois a três meses.

Uma nostalgia tão viva que chego a sentir o cheiro dos quindins vendidos em caixas de camisa, dos "pux ee -pux eee ê" gritados pelos meninos de bicicleta, das planondas de isopor, da sineta que chamava para o almoço, das enormes roscas fritas servidas nas tardes de chuva no bar, da sala de cinema, das mesas de pingue pongue... Tudo remete a um verão de muita simplicidade.

Se compararmos ao que, felizmente, podemos dar para nossos filhos hoje, a mudança é muito grande. A Laura espera a chegada de um sobradinho de "dois quartos e meio" e uma infra-estrutura de "resort". Eu ficava faceiro da vida em dormir num beliche dividido com meu irmão mais velho, num apartamentinho tipo hotel duas estrelas. Era um luxo. Mas me convenço que a "evolução" da humanidade tem dessas coisas. Não podemos pensar que nossos filhos devam viver ou passar pelas mesmas experiências que passamos em nossas épocas. Cabe a nós, manter a percepção dos valores de humildade, respeito e das coisas simples da vida. Num mundo bem mais truculento, já é um começo.

Voltando a "Rainha", que quase nada mudou, cada segundo naquele lugar tem muito cheiro de praia. Sabe aquele cheiro que começamos a sentir quando a estrada do mar se aproxima? Na época, íamos pela Interpraias, que ficava muito mais perto da praia que a estrada atual. Tão mais perto que o asfalto era constantemente invadido pela areia das dunas atravessando a estrada de um lado ao outro. Esse "cheiro" durava pouco. Quando terminava o "veraneio", todos voltavam para as suas casas em outras cidades. E não trocávamos emails. Trocávamos cartas durante o inverno. E se déssemos sorte de repetir Rainha, o próximo verão esquentava a amizade novamente, naquele imenso campo de futebol do tamanho de uma quadra, atrás da "Colônia".

É tarde da noite de domingo. Agora a Letícia grita da sala: amor, falta muito? Sim, respondo. Tô acabando um texto para o blog. Lê amanhã e me diz se não sentiu um cheirinho de mar. Mesmo que os teus verões tenham sido mais para o norte, em Torres, ou de Brasília (carro) para o Brasil acima com teus "ricos" pais.

Com tudo isso, queremos mais é que a Laura um dia conte que Xangri-lá era "tudo". Que encontrou uma amigo na faculdade "dos tempos do Pacific". Se isso acontecer, eu e a Letícia vamos nos olhar, sorrir e pensar igualzinho: que sensação de dever cumprido.

Que o Pacific seja sinônimo de nostalgia, lá por... 2025.


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