27 de fev. de 2009




ARRUMA AS MALAS E CHAMA A AMBULÂNCIA!

Laura nasceu aos 28 dias de janeiro. Aquariana como seu avô Clécio. Era 2002 e já se passavam dois anos do novo século. Os nove meses que antecederam essa data marcaram uma gravidez saudável e de muita expectativa.

Era domingo. Dia quente e ensolarado de praia. Os nove meses estavam quase completos. O "barrigão" tava liberado para pegar uma praia. Dr. Oscar havia liberado, pois os cálculos - aqueles de "tantas" semanas que nunca entendi - previam o rebento apenas para a segunda metade de Fevereiro. Liberado. Malas e freeway na sexta-feira. Um final de semana típico de verão. Praia cheia, sol e amigos.

Tudo tranquilo. Um domingo de "almojanta" lá pelas quatro da tarde. Dia de freeway para pegar no batente na segunda. Casa cheia e final de semana bem aproveitado. Com banho de mar e tudo, o "barrigão" tava cansado. Enquanto todos conversam na sala, Letícia resolveu tomar um banho pra relaxar do calor.

É aí que começa a parte mais movimentada daquele domingo. Vejo um pequeno ti-ti-ti na porta do banheiro. Mulheres com olhos arregalados num misto de tensão e sorrisos. Os sorrisos certamente eram de quem já havia tido filhos. Alguém chega na sala e diz em alto e bom som: - a Letícia fez "xixi na calças". O xixi era Laura avisando: - estou chegando gente! A bolsa havia rompido junto com qualquer privacidade que o momento merecesse.

Correria. Malas prontas em minutos. Médico ao telefone dizendo a única palavra que não nos deixa calmos: calma! Laura deveria nascer no Hospital Moinhos de Vento, cercada de tecnologia e médicos que acompanharam toda a gravidez.

As malas, como num passe se mágica, já estavam no carro. Feitas como malas de novela. Joga tudo dentro e zip. E os amigos? Todos na porta do banheiro. Privacidade zero. Dava até pra imaginar alguém perguntando: - vai ser de cócoras? Dentro da banheira? Querem ajuda? Não pensei duas vezes e já tava com o cinto de segurança do carro colocado, motor ligado e pé no fundo do acelerador. E, poeticamente, a "água da vida", molhando o banco do carro, que não era de couro.

Todos sabem o que acontece num final de domingo na praia? Estrada cheia. Todos voltando para Porto Alegre. Talvez a população da estrada aumentasse, ali, naquele carro em alta velocidade. Laura não estava causando dores e a cena não era de gritos daquelas grávidas de novela. Diga-se de passagem, Letícia foi impecavelmente discreta e corajosa. Eu estava beeeem mais nervoso. Tão nervoso, que já havia agendado com a CONCEPA (concessionária dessa rodovia) uma ambulância assim que chegássemos no primeiro pedágio.

Letícia não queria. Mas eu, que quase tava tendo um filho, nem respeitei a opinião de uma quase ex-gestante. Tava lá a ambulância. Não era assim uma ambulââância, mas tinha sirene, enfermeiro e kit parto. E não tinha ar-condicionado. Chovia muito e a ambulância abria caminho pelo estrada lotada. Por sinal, um dos motivos que me fez pedir a viatura com sirene e luzes piscantes, foi a ignorância dos motoristas que não davam passagem. Nem mesmo quando dava sinal de luz com pisca alerta ligado. Num mundo de espertinhos no trânsito, eu poderia ser mais um, apenas querendo chegar mais rápido em casa.

Passados alguns quilômetros, a pequena ambulância muda o percurso e sai da freeway. Pensei comigo: o enfermeiro tá querendo ser notícia na Zero Hora de segunda-feira. Vai nascer em Glorinha, placa que indicava a mudança de percurso. Nesse momento, quase nasce um coração pela minha boca. Com a voz embargada, faço a pergunta: porquê parou? Parou porquê? Da janelinha que dá acesso a cabine do motorista, ouço a resposta: - vamos ter que trocar de ambulância. Não podemos passar desse ponto da estrada com essa "viatura". Ela deve voltar para o seu ponto fixo. Vamos trocar para uma UTI móvel.

Foi uma troca e tanto. De um parto de Kombi para um parto de Mercedes. Até médico e ar-condicionado tinha. O coração palpita bem menos e não resolve mais roubar a cena de Laura, a verdadeira protagonista dessa "road-novela". Esse segundo trecho da estrada foi rápido. Um médico ao seu lado sempre passa segurança e acalma. Do lado da Letícia e da Laura, é claro.

Seguimos o finalzinho da estrada. O domingo de estrada cheia seria inesquecível. Laura estava calminha e Letícia também. A ambulância bacana sai da freeway em direção ao Hospital Moinhos de Vento. Daí em diante, Laura e Letícia estavam se sentindo em casa. E por falar em casa, alguém precisa buscar as roupas das meninas. Não havia mala de roupas nem pra mãe, nem pra filha. Mas, dos males o menor. Pegaram tudo, menos as minúsculas meias. Mais motivo pra beijar muuuito aqueles pés que parecem de brinquedo.

Laura foi nascer na manhã do outro dia. Com a benção da saúde e do amor dos pais, avós, tios, prima e amigos. E pensar que um dia antes, o "barrigão" tava mergulhando, lépido e faceiro, no mar de Atlântida.

Com todo esse roteiro, a última cena da "road-novela" bem que poderia ser assim: câmera fecha na pulseirinha da menina mais linda do berçário e revela o mais novo e fresquinho nome de Laura: "Glorinha Freeway". Uma futura chacrete.

Amo vocês, chacretes da minha vida.



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