12 de mar. de 2009


SAUDADES DOS PORTÕES

Eram portões de ferro, portões baixos e portões altos. De todos os estilos e tamanhos. Apenas demarcavam uma residência com jardim. E não precisava ser um casarão para ter um portão. Assim, escrito desse jeito, com esse "aumentativo", enxergamos palacetes ou casarões em grande estilo.

Mas porque mesmo falar em portões? Simplesmente porque eles quase não são mais vistos dessa forma. Baixinhos, despretensiosos e na maioria das vezes até entreabertos convidando para um café. Porque são poucas as casas que hoje te recebem com essa despretensão, meio entreabertas, sem porteiros eletrônicos ou verdadeiros aparatos eletrônicos cheios de fios que prometem choques elétricos.

Lembro bem de deixar a chave escondida em meio aos arbustos, ou disfarçada dentro de um vaso próximo ao portão. Era para quem ainda não tinha a chave da casa na família, não estava na fase de dono da propriedade, ou não saia sozinho de casa.

Acompanhando os portões, os muros também eram amigáveis. Eram muretas daquelas que até serviam de desafio para andarmos em equilíbrio com os braços abertos. E vez por outra, eram responsáveis também por nostálgicos braços ou pernas engessados na infância. Eram muros e portões que não conviviam com pit bulls, raça que sequer existia. É claro que existiam cães ferozes. Talvez não existissem ainda os ladrões ferozes. Naquela época, lembrando da minha avó, os ladrões eram apenas "gatunos".

Com a evolução dos "gatunos", vieram os condomínios que destruíram duas ou três casas pra construção de duas ou três torres. Com eles, vieram os "bretes". Aqueles que os assustadores motoqueiros, que não tiram seus capacetes na hora da entrega, ficam trancados até buscarmos nossas pizzas. Que falta de charme. Daqui a pouco vamos ter portas giratórias com vidro blindado e um guarda mandando colocar os "metais" na caixinha. Sinal dos tempos.

Também temos os "port-couchere". Estes, uma novidade revisitada dos castelos de outras épocas. E são muito úteis para visitas em dias de chuva ou para triunfais chegadas de grandes estrelas do cinema em suas maravilhosas limousines

Não quero ser aquele nostálgico chato que não gosta de nada que é moderno e novo. Gosto de um "port-couchere" ou de um pórtico como o do Pacific. Este último, imponente, pronto antes de tudo pra demarcar o seu terreno. E ainda tem uma porta muito bonita e alta na recepcão.Vai ser o portão dos nossos filhos. E que portão.

Mas sinto saudades de bater palma no portão do vizinho pra pedir uma xícara de açúcar. E tenho uma visinha no meu prédio de 14 andares que ainda faz isso com frequência.

Que ridículo ter saudades de portões. Que ridículo ter saudades daquele ato nostálgico que é bater palmas e gritar "ôh de casa!! Mas só pra lembrar uma frase, que não lembro bem de quem: "as cartas de amor são ridículas. Mas quem nunca escreveu uma carta de amor é que é ridículo." Abrir um portão de casa sem medo, seja ele uma porteirinha ou um porteirão tem seu valor. Peça uma pizza hoje pra sentir a diferença.


Nenhum comentário:

Inscreva-se no PayPal e comece a aceitar pagamentos com cartão de crédito instantaneamente.