DO BOX.
Da janela do meu banheiro tenho uma excelente vista da metade norte da nossa capital. E foi num banho relaxante, pós-trabalho de uma sexta-feira, que constatei algo. Pra mim, o banho é um momento bastante inspirador. Por onde ando, tenho a neurose do bloquinho para anotar ideias ou coisas a fazer. É no banho que me sinto um tanto quanto incapaz de exercer essa neurose. Daí tento gravar tudo na cabeça mesmo.
Foi assim, ao entardecer do horário de verão, que acompanhei a cidade aos poucos se acender. Uma luz aqui, um poste ali, um edifício inteiro acolá. Essa já é uma época de espírito natalino. E isso aumenta o "pipocar" de luzes dos inícios de noite. Abro bem a janela basculante do banheiro e percebo que o piscar de luzes natalinas já domina bastante a vista. E como estamos nos trópicos e só temos neve artificial nos shopping-centers, nos resta colocarmos muitas, mas muitas luzinhas brancas e coloridas pelas janelas e jardins da cidade.
Até aí tudo bem. Mas há algo de errado na minha vista panorâmica. Se o Papai-Noel, com sua calma nórdica e sua pacífica cara de bom velhinho faz pausada e tradicionalmente um calmo oh...oh...oh..., porque vejo tantas luzinhas nervosas? Porque as luzinhas que se enroscam nas palmeiras, telhados e árvores de Natal piscam mais rápido a cada Natal que passa? Que os mais religiosos não se ofendam, mas o espírito natalino cada vez mais se parece com aqueles neons de porta de boate. A tecnologia esqueceu que é Natal?
O banho se aproxima do final. Deu para ter ideias e tirar conclusões sem anotar nada. Mas não dá para descuidar com o gasto de água e gás. Termino vendo uma cobertura que forrou todo o telhado com uma sequência de pisca-pisca tão absurda que só falta ser acompanhada por uma dance music. Não duvido.
Então, enquanto deixo a água escorrer do corpo pra poder sair do box, tento concluir. Deve ser um sinal dos tempos. Tempos rápidos, estressados e engarrafados que acabam contagiando o final do ano e o Natal. Mas espero que ainda existam pela cidade aquelas luzinhas brancas que brilham por si só, sem precisar piscar frenéticamente. Assim dá pra acompanhar fielmente o eterno e pausado oh.....oh.....oh..... do bom velhinho. Calma gente!
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